O que o vento não levou...

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não conseguiu levar: um estribilho antigo um carinho no momento preciso, o folhear de um livro de poemas, o cheiro que tinha um dia o próprio vento.Quem faz um poema abre uma janela. Respira, tu que estás numa cela abafada esse ar que entra por ela. Por isso é que os poemas têm ritmo para que possas profundamente respirar. Quem faz um poema salva um afogado. Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam voo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto ali- mentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olha, então, essa tua mão vazia, no maravilhado espanta de saberes que o alimento deles já estava em ti
(Mário Quintana)

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