Claro que não. Frágil que seja, de papel de seda e taquara, nenhuma se dá ao exercício fácil de voar, levada suavemente pelas mãos de alguma corrente. Nunca. Elas metem a cara. Vão em frente. Têm dessa vaidade de abrir mão de brisa e preferir a tempestade. Como se crescer e subir fosse descobrir em cada vento contrário uma oportunidade. Como se viver e brilhar fosse ter a sabedoria de ver uma lição em cada dificuldade. No fundo, no fundo, todo mundo deveria aprender na escola a empinar pipas, pandorgas ou raias. Para entender desde cedo, que Deus só lhes dá um céu imenso porque elas têm condições de o alcançar. Assim como nos dá sonhos, projetos e desejos, quando possuímos os meios de os realizar. De tempos em tempos, voltaríamos às salas de aula das tardes claras só para vê-las, feito bandeiras, salpicando o azul. Assim compreenderíamos, de uma vez por todas, que pipas são como pessoas bem sucedidas: usam a adversidade para subir às alturas.
(José Oliva)
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