flores...

segunda-feira, 30 de maio de 2016


... eu nunca entendi as flores,como é que algo tão simples pode ter tantos significados.
Um pedido de desculpas, uma visita,
agradecimento, compaixão e ate paixão. A flor é um assunto que me faz pensar como é que algo pode ter a mesma essência e se influir a diversas situações metamorfoseando-se em diferentes significados. Pra que algo mais simbólico de mudança de ciclo do que as flores expressam, a descoberta dos amantes que se encontram um no outro, a morte que se despede da vida ,as pétalas que representam união e o ritual matrimonial, vida e fertilidade. Seja como se interprete-a esse vivo composto de pétalas, e algumas com espinhos, cabe a cada um se concentrar no perfume que elas exalam ou na aspereza dos espinhos. A flor se liberta de rótulos a partir do momento que ela conta uma história, ao passo que são porta de saída, também são de entrada, a ambiguidade desse órgão reprodutor dos vegetais fanerogâmicos,nos proporciona reflexões... Esse pequeno objeto de carinho, amor, entre outros sentimentos e motivos, exala diversos perfumes, nos faz atentar para os diversos sentimentos que povoam o nosso ser. E nessa desorganização emotiva ou até racionalização, as flores contam histórias, separam dois contrapontos e nos lembram de que pra saber viver tem também que se deixar morrer... Atitudes, pensamentos e sentimentos, nascem e morrem a todo segundo, e reconhecer essas mudanças é um grande passo para o desprendimento, e a oportunidade para aprender que ciclos se abrem e fecham.

(lia Holanda) 


Ventanias...



Quando qualquer respiração mal sincronizada era capaz de tirar a sua paz, ela sabia que era hora de aceitar o incerto da vida e ir atrás dos encantos escondidos em cada falha guardada dentro de si.. Parafraseava Los Hermanos:" e mesmo que tudo dê errado, mesmo assim, não tem problema". Deitava no telhado de uma casa qualquer, olhava para o céu e inventava uma nuvem que chovesse sorrisos, bem em cima de si.. Ela já havia sentir ventanias tão fortes e vontade de segurar o teto para que não voasse, chuvas tão agressivas que dava medo de abrir a janela e, no entanto, em poucas horas depois tudo terminava em brisa, se resumiam em gotinhas tímidas grudadas no vidro. Era passageiro, o susto é passageiro. Entendeu que tudo dependia da importância que se impõe. Aproveitar o impulso e jogar alguns sentimentos antigos para serem levados pela direção do vento, junto com o teto se for preciso, pois o teto já existia a tempo, moraria debaixo das estrelas, acampada em meio ao nada e tendo apenas o balançar das folhas como paredes. Até ela que era tarja preta aprendeu a se acalmar e a respirar ao invés de suspirar. Ela que vivia sempre estufada, sem espaço pra nada de tanto estar cheia de tudo, aprendeu a abrir a válvula de escape e esvaziar um pouco. Que mal tem? Passar a vida com o coração acelerado pelos motivos errados é um desperdício de hormônios. Ah, pra quê se esforçar tanto, afinal? Dê um tempo, tome um tempo, não culpe o tempo, sinta o tempo e recupere seu tempo. O que não pode acontecer é ter tanto medo da vida, e se esconder atrás de tantas chaves. Ela já havia se enchido com tantos cadeados, mas poucos segundos depois já não se lembrava mais o que estava guardando. Ela já  havia corrido tanto da solidão que quando percebeu estava de mãos dadas com ela. Então, parou de correr. Jogou as fechaduras. Pois, tudo passa. Abriu as janelas.
 E sorriu com o vento. Se funcionou? Dia sim, dia não. Mas passa, o dia bom passa, e o ruim também. A chuva é fase, por que ela não seria?
Entendeu... que o incerto também tem seu encanto.
(Najara Gomes)






Maria e saudades...

Maria sentia saudades do amigo que estava morando em outro país. Por um motivo bobo,eles tinham brigado. Para se desculpar, ela resolveu mandar-lhe uma carta. Mas não uma carta qualquer, porque ela datilografava o texto usando a máquina de escrever. Nervosa e arrependida, chorava. As lágrimas mancharam o papel e borraram o texto. Ela não passou a limpo e enviou assim mesmo, com todas as marcas. A pessoa percebeu que foi um pedido de desculpas cheio de emoção e a perdoou".
(Célia Goulart)

Maria sempre Maria

Vestiu o vestido como se fosse uma noiva no seu jardim de Éden. Cobriu-se de heras e flores O perfume floral invadiu o verde das suas matas. Maria sonhava acordada com seu dia de princesa. Eram 13 horas: Sentada no último banco da Catedral da Sé ela nunca seria a rotina sem lírica.
Maria era poeta... Sobrevivente dos que desistiram de sonhar.
(Libertária)

Maria

Maria sonhou: Era Alice no País das Maravilhas ...Onde a rotina era a loucura, o absurdo era o possível, o nonsense o bom senso,
o lógico era o mágico.
Ao despertar... Seus dilemas viraram lindos poemas.
(Libertária)

Roça...

Lá na roça tem de se aprender a conviver, com o escuro, com a noite. Do lado de fora da casa a gente pode olhar em todas as direções: não se vê uma única luz. Breu. Quando o tempo esta bom, o céu negro aparece iluminado por milhares de estrelas. Na cidade, quem pára para ver o céu? Eu era pequeno mas o céu estrelado já me causava assombro. Como foi que ele começou? Quantas estrelas...! Milhões...? Bilhões...? Havia também a luz da lua. Nas noites de lua cheia os campos e as matas ficavam iluminados. “Não há, ó gente, o não, luar como esse do sertão...!” A noite era uma hora tranquila. Os adultos contavam histórias. Histórias de “antigamente”,, histórias engraçadas, histórias de dar medo, histórias de fazer chorar.
Quando já estava tarde da noite, lá pelas oito horas, tomava-se leite com farinha de milho, ou leite com goiabada mole. E quando hora de ir para a cama, cobria-se as brasas do fogão com cinza, apagava-se as lamparinas. Escuridão de sertão. O cri-cri dos grilos, os pios das corujas, o barulho da água no monjolo, o barulho dos gatos correndo nas madeiras do telhado. Hora de medo. Por isso, ao ir para a cama, era preciso rezar. Minha mãe me ensinou a rezar, “Agora me deito para dormir. Guarda-me ó Deus em teu amor.
(Rubem Alves)

vida X canção

A vida dura o tempo de uma canção, verdade é breve, uma pequena valsa, viver uma vida requer dançar no ritmo, ainda que, para muitos, a coreografia seja mero detalhe. Você escuta a melodia, leva às mãos sinuosamente pelo ar, buscando paz, encontro, amor. Escolher num único instante dar-se por inteiro. Consumimos tempo e não aproveitamos. Reclamamos da sua pouca duração. É triste, mas toda música chega ao seu fim. Sem platéia. Apenas nós. Saudades... Daquilo já vivido e dos segundos que ainda estão por vir. Nos corações sobram sentires, mas quantas vezes os permitimos? Não há sentido. Não há resposta definitiva e tampouco um consenso universal do motivo de aqui estarmos, porque, diluídos pela procura de respostas, tateamos o ar para encontrar algo que não pode ser visto.
Escute o silêncio..
A música está tocando. ..
Ame sentir...
(Guuilherme Moreira Jr.)

Cartas


Existem cartas que nunca foram enviadas e ainda estão guardadas em um lugar que poucos vêem, na morada do coração.
Uma carta. Palavras. Sentimentos. Telas. Vidas.
A carta que eu nunca escrevi começava com um belo trecho de um poema, e era ritmada como a poesia. Eu nunca escrevi porque era uma carta importante, pra mim. As palavras começavam a fervilhar dentro de algumas telas de sonhos nunca concretizados ... lágrimas caíam... A carta que eu nunca escrevi vinham com desenhos de melodias que eu só conseguia compor porque me fazia lembrar das músicas dos sonhos... sobre as flores que nasceram em meu jardim, das lembranças das noites longas...das estrelas, e a lua a admirar. Uma carta que eu nunca escrevi, que ficou intacta em mim e sem remetente, mas como alguma estrela que encontra outra, essas letras e palavras encontrarão o seu destino, porque quem se decide que a esperança é amiga e embeleza o caminho e como um adorno que reveste o coração, essas singelas sílabas serão bem guardadas porque são únicas. E no coração lugar de entrada de poucos, serão suavemente colocadas em caixas coloridas para serem revistas quantas vezes a vida permitir, porque nessa morada se vê melhor e se descobre lares de quem te cativou para uma vida inteira.
(Maria Eneida)