Roça...

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Lá na roça tem de se aprender a conviver, com o escuro, com a noite. Do lado de fora da casa a gente pode olhar em todas as direções: não se vê uma única luz. Breu. Quando o tempo esta bom, o céu negro aparece iluminado por milhares de estrelas. Na cidade, quem pára para ver o céu? Eu era pequeno mas o céu estrelado já me causava assombro. Como foi que ele começou? Quantas estrelas...! Milhões...? Bilhões...? Havia também a luz da lua. Nas noites de lua cheia os campos e as matas ficavam iluminados. “Não há, ó gente, o não, luar como esse do sertão...!” A noite era uma hora tranquila. Os adultos contavam histórias. Histórias de “antigamente”,, histórias engraçadas, histórias de dar medo, histórias de fazer chorar.
Quando já estava tarde da noite, lá pelas oito horas, tomava-se leite com farinha de milho, ou leite com goiabada mole. E quando hora de ir para a cama, cobria-se as brasas do fogão com cinza, apagava-se as lamparinas. Escuridão de sertão. O cri-cri dos grilos, os pios das corujas, o barulho da água no monjolo, o barulho dos gatos correndo nas madeiras do telhado. Hora de medo. Por isso, ao ir para a cama, era preciso rezar. Minha mãe me ensinou a rezar, “Agora me deito para dormir. Guarda-me ó Deus em teu amor.
(Rubem Alves)

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