canto do inverno

terça-feira, 21 de junho de 2016

O inverno chegou...
Ao longe,a luz da última estação se apagando, tingindo de ouro o horizonte,dá lugar aos seus braços brancos e gélidos...
Noites frias de junho surpreendem cigarras festeiras que descem preguiçosamente pelos fios de seda e calam seu canto...
Ouve-se os últimos pios da cotovia em reverência ao silêncio hibernal, na esperança de outros madrigais...Pardais vão em busca de beirais para morar e as andorinhas partem em revoadas em busca de calor...
Na serra,os montes se revestem de brancos trajes do orvalho da noite, condensado pelas manhãs...
A chuva miudinha alimenta e faz crescer o limo no tronco das paineiras de galhos esquálidos,como a pedir aos céus que os revista de outras flores...Tudo se aquieta...A terra dorme...
Há uma sinfonia silente dos seres com ela adormecidos,como a agradecer sem alarde o calor de asas,aconchegos e abraços...
O murmúrio da fonte faz-se quase inaudível e de longe ouve-se o estribilho do vento que penetra pela fresta da telha,e faz a coruja se encolher na cumeeira...
Nas chaminés já se vislumbra a fumaça gris ,ouve-se o crepitar da lenha no fogão...
O pequeno bem-te-vi agasalha em seu ninho, seus filhos ainda em plumas,de bicos arroxeados como mãos de crianças com frio...Na solidão das estradinhas o luar quase prata se derrama sobre a mata, e a canção da brisa gélida passeia por entre os galhos do ipê ,fazendo bailar as últimas folhas lívidas de frio...
As árvores quase desnudas esperam suas novas vestes tecidas caprichosamente pelo amanhã que certo virá...
As sementes descansam no seio da mãe terra,pois sabem que não tarda,a primavera com seu sorriso debruado de flores as acordarão ...
E no inverno sob o céu sem matizes,repousa calma e serena a natureza, pois sabe que há encanto e magia em cada estação.
(Melinda Lacerda)

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