... o que a alma escuta

segunda-feira, 20 de junho de 2016

... creio que é possível ouvir coisas que nem som emitem. Escutar os pensamentos; o grito na arte de Edvard Munch e como diria Bilac que até mesmo estrelas se escuta, Depois das estrelas, a manhã. O canto da cotovia.
Clarice Lispector teria também percebido que certa hora da tarde as árvores que plantara riam dela.
Ouso dizer que o silêncio é o mais pleno de todos os sons: sem ele, não haveria distinção de qualquer outro.
Minha palavra final fica nesta peça de John Cage, chamada 4’33’’. O nome refere-se ao tempo que a orquestra passa com instrumentos em mãos, sem tocar uma nota sequer. O intuito da peça é fazer com que as pessoas prestem atenção aos sons que elas mesmas produzem.
Hão de concordar comigo que, se é possível escutar o que não soa, então escutar, de fato, não se faz com os ouvidos. Os ouvidos são para ouvir, o que pode vir a se tornar escutar.
Mas escutar não se faz primordialmente com os ouvidos, se faz verdadeiramente com a alma.
(Mariana Martins)

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