Mar

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Sobre o que me leva ao mar, ou sobre o que dele levo em mim...
O mar tem suas marés. Às vezes acorda sereno e faz cócegas nas canelas da areia, escorrendo sonolento de volta pra dentro de si. Às vezes revolve-se, rebela-se, revolta-se; e cresce e enche: transborda-se. Mar deveria era ser adjetivo, feminino, plural. O mar é sempre vários, tal mulher regida de lua.
Impossível confundi-lo com rio.. Em cada ponta que é sua é outro: ora azul turquesa, ora verde claro, ora cristalino. Sua infinita finitude faz que seja irmão quase gêmeo do céu. Às vezes frio, congelante; é mistério pro olhar alheio. Mas pode ser quente e delicado, envolvente como um abraço. Há tempos de abundância e a chuva faz festa no espelho deitado da água. E há os tempos sofridos, nos quais o sol só faz que maltrata, parecendo que tudo resseca. Creio que eu, tal qual concha pequena, nasci no ventre do mar. Pois sinto, em cada reencontro, um recaminhar para mim. Pois sinto, a cada quebrar de ondas, a sincronia com as batidas do meu coração. Pois é na água salgado que antevejo, nítido, o meu mais completo reflexo e o meu mais infinito desejo de nadar pra dentro de mim.
(Manu Marinho)

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