sertão

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Rematando a noite....
"No começo Deus criou o céu e a terra. A terra era um vazio, sem nenhum ser vivente" e depois, todo sertanejo achava que a bíblia quase que retratava a sua gente. Nesse mundão de deus, um sertão desgramado, em um sol de lascar..."As mulheres cantam ao redor da fogueira a glória das estrelas, o
sertanejo dança um estranho xaxado pelo seco chão. Os sons, os cheiros, as imagens, “ desembestados” e “capuchos de algodão” levados pelas “mãos do vento”, ante a “sensibilidade das pedras” e o “silêncio do açude”, o jeito e a alma campesinos ... É um cabra macho e cabra da peste das palavras. E é mais: "Um matuto sem eira nem beira, Labutando com palavras, Vaquejando boiadas uma peleja sem fim.".. É pelejador. E da poesia vê-se dor, da dor faz-se poesia. Sem dúvida, sua poesia é para lermos sem pressa...
Vaqueiro e peregrino, sertanejo-poeta de vocabulário do mato agreste tange pelos desertos e solidões sua boiada de versos. Aqui, “um dilúvio tibungando”, ali um “azucrim berrando”, além “um tição queimando o peito”. Como “um matuto sem eira nem beira”, vem mansamente revelar inteiro de si e de seu mundo, os mais profundos e os mais rasos sentimentos... se respira e transpira, se entrega e se vive ...
Este cantador de horizontes abertos vem que vem, traz no lombo o peso e a leveza de seus chãos e empareda-se nos estreitos da cidade dos homens.
E consegue ser a um só tempo triste e feliz, para dizer: “Ser-tão assim... Sertão, que este meu canto é só meu.”
(Revista Obvious)




0 comentários: