Colorir a vida

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Numa manhã, o sol apontava quase meio-dia. A menina fazia caretas e, com as mãos pequenininhas, domava seus cachos enquanto olhava no espelho. Era o primeiro dia de aula. Ansiosa, não conseguia intercalar a fala e suas mastigadas nervosas. Com a mochila nas costas, a pequena invadiu a portaria do colégio como quem está prestes a matar a fome. Do pátio, a menina olhava todas aquelas salas e crianças se misturarem. Era tudo tão colorido que ela mal sabia se todas aquelas cores caberiam no seu estojo de lápis de cor. Ela queria colorir tudo também. Seus olhinhos brilhantes iluminaram um grupo de crianças, riam e se abraçavam. Ela chegou e disse oi. A risada daquelas crianças mudou de cor, não saiam mais a mesma música da felicidade. Os dedinhos apontavam para ela. Seus cachos murcharam quando encontraram com aqueles cabelos lisos pelos rostos brancos das outras meninas. Engoliu o próprio riso. De mãos dadas com a professora, a criança seguiu para a sala de aula. Sozinha, a menina coloriu o dia de cinza. No caminho de volta, enquanto sol se escondia atrás dos prédios, seus olhos estavam silenciosos. Ela estava com raiva dos cachos. Em casa, a pequena se sentou em frente ao espelho. Ela viu uma lágrima passear pelo seu rosto e estacionar em sua boca. Era salgada. A tristeza tinha gosto. Olhando fixamente para seu rosto emoldurado por fios que pareciam flores, mas ela já não gostava mais deles. Não queria florescer, queria lisos. Se não, não são cabelos. Entre seus cachinhos, uma conclusão e, entre seus dedinhos, uma tesoura sem ponta, amputava seus cabelos.
No dia seguinte, quando o sol anunciava a tarde, caminhavam para a escola. De novo, salas e crianças se misturavam, inclusive ela. Dessa vez, a menina com um sorriso, coloria sua luta.
(Luana Simonini)
Só posso dizer... é o que fez os meus olhos brilharem...Ela dedicou-se com afinco a superação das adversidades...


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